quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Caí, de não conseguir levantar. Na rua. Caí pra me imobilizar por dois meses. Há uma série de dificuldades de movimento. A possibilidade mais óbvia seria o trecho acima tratar dos meus pés, mas falo do meu texto.
Tão frustrante chegar a um ponto da pesquisa, pro que deveria ser A grande obra, e... Simplesmente chegar num impasse, em algo que nenhum livro pôde me responder. E é terrível, quer dizer... Onde procurar a informação que falta?
Depois do começo tenso, apresento então o blog, o motivo do blog, e tudo mais. Não é novidade pra ninguém que eu quebrei o pé, estou imobilizada e desfrutando de dois meses da mais pura vagabundagem dos convalescentes. Até aí, normal. O que é novidade, inclusive pra mim, é que finalmente toda essa loucura enfim fez sentido, e eu descobri exatamente o que eu queria e precisava fazer. O que todas as minhas inquietações queriam dizer, todos os novos impulsos, todas as últimas idéias.
Que eram terrivelmente desconexas, até o momento que tudo se ligou, mostrando que fazia parte de um mesmo trabalho. As máscaras, as pesquisas, o romance, tudo. Era tudo uma mesma obra que me movia.
E o blog vai me ajudar durante a criação a fazer questionamentos periódicos que possam vir a ajudar na construção do texto em si.
O tema é o Candomblé, religião dos meus pais, avós, bisavós, e... Eu simplesmente poderia continuar citando os próximos, mas não vem ao caso. Na verdade, não é um tema. Os enredos dos mitos serão a base das histórias, esses mitos africanos que fazem parte de quem eu sou, que ilustram os mais fantásticos arquétipos humanos.
Lindo, eu tenho tudo nas mãos, não? NÃO! A pesquisa é MUITO complicada, muitas fontes sem credibilidade, nenhuma possibilidade atual de mobilidade de contactar alguém que possa sanar minhas dúvidas ao vivo. A dúvida me consome, mas segue o ânimo. Usei meia dúzia de tintas e criei 3 abstratos da primeira história que, ao serem gravados num quarto papel, formaram essa imagem. O que chamou a atenção é que ele consegue figurar, mesmo que muito sutilmente, o que eu queria realmente. E formou uma imagem que a minha cabeça realmente precisava, mas que não sairia das minhas mãos se não fosse pelo acaso. Muitas sairão ainda pra essa primeira história, mas essa técnica é boa porque ajuda a agregar diversas pinturas em uma só. Os abstratos certamente JAMAIS dariam a idéia do que foi formado, o acaso que moldou tudo.
Outros textos mais profundos, mas sempre relacionados a obra, serão postados. Esse é só pra abrir, pra mostrar a minha inquietação, o primeiro desenho. Esse é um blog sobre uma obra que tá pra nascer, então muitas vezes os textos serão só tensos, como esse, muito pouco literários. Mas... Já tenho fragmentos de dois. Dois questionamentos bonitos, que terão suas influências no texto.
Bem, é só. Vamos ver se escrever esse blog realmente vai me ajudar com a pesquisa e registro do material, do alicerce e o mais importante de tudo, do terreno.

sábado, 17 de novembro de 2007

O Terreno

Meu sobrinho chora, não sei de onde. Tem fome, e chora. Assisto passivamente - e distante - à cena. Meu sobrinho chora porque tem fome. Porque quer peito.


Eu não choro, nem quero peito. Mas tenho fome. As muletas me ajudam no caminhar até a cozinha porque, diferentemente do pequeno menino, eu dependo menos da força alheia para conseguir a minha nutrição. Mesmo depois de ouvir as infinitas reclamações de minha mãe sobre o quão irritante é a minha tentativa de independência num momento de debilidade, e o incansável discurso do quão importante é descansar nesse momento, eu consegui aos poucos realizar o que me predispus. Não mais tinha fome. Nem o bebê: Fora alimentado, agora dormia.


A fome é direta, é genuína. E é tão pessoal, intransferível e possui de tal forma que é uma necessidade primária. Concentra todas as atenções de quem a tem nela mesma, e até que seja sanada, é a única coisa que existe. É uma atividade que acompanha o ser humano, das poucas que ele é realmente obrigado exercer. Por ela, meu sobrinho chorou.


E naquele momento do choro, pude não só eu, mas quem estava presente, compreender que aquela era uma situação que definia. Ele precisava comer. E pudemos todos da casa compreender que aquela era uma prioridade, não só porque ele chorava. Mas porque conseguimos adivinhar em nós mesmos o que é ter fome.


Exercer-se. Foi através do seu choro que ele pôde exercer-se.


Amo essa construção. Exercer-se. E no só porque me agrada foneticamente (é imponente, poderia falar até quando não faz sentido).